No
dia 16 de Outubro, foi desenvolvida uma atividade com os alunos do 8º ano sobre
a escravidão. O bolsista do PIBID, juntamente com a professora Sueli, estabeleceu
uma reflexão com os alunos acerca do trabalho escravo durante o período
imperial e o trabalho escravo presente ainda hoje no Brasil.
A necessidade do exercício surgiu pela dificuldade dos alunos em compreenderem a
submissão dos negros quanto ao trabalho escravo e algumas características
particulares do próprio sistema escravista em si. Ao trabalhar o tema sobre a
escravidão no Brasil imperial, a turma não compreendia e perguntava: “Mas como
alguém pode aceitar ser escravo e viver nessas condições?”, “Por que os
escravos não se libertavam sozinhos?”.
Em
decorrência disso, foi preciso pensar uma atividade que pudesse deixar claro
aos alunos que a escravidão não era uma condição a qual o escravo podia deixar
de pertencer simplesmente por sua vontade, mas que era uma questão que dependia
de uma série de fatores, sejam eles externos ou não. Para que a turma
percebesse essa questão, foi utilizado um texto que discute o trabalho escravo
nos dias de hoje e que serve como via de acesso para se pensar a própria
escravidão historicamente. O artigo escolhido foi “Trabalho
Indecente” escrito por Vivi Fernandes de Lima, que aborda justamente a questão
do trabalho compulsório em inúmeras fazendas brasileiras e a falta de
fiscalização e punição dos fazendeiros que se utilizam da mão de obra escrava:
Antônio morava no Maranhão e precisava de trabalho.
Até que ficou sabendo que uma propriedade estava recrutando peões. Ele se
interessou e foi com mais 41 trabalhadores para o local do serviço. Chegando
lá, foi vendido por R$ 80,00 ao fazendeiro Miguel de Souza Rezende. Ele passou
a trabalhar na derrubada da mata e na limpeza do pasto. Dormindo em barraco,
passando fome, sem dinheiro para enviar à família e ainda devendo ao armazém da
fazenda, decidiu fugir. Mas o cantineiro avisou: “Não faça isso, que eles te
matam”, referindo-se aos muitos jagunços armados que rondavam a fazenda. Um
colega de Antônio fugiu e o grupo chegou a ouvir tiros à noite.[1]
O principal motivo pela escolha do exercício foi justamente discutir com os
alunos o fato de que a escravidão ainda existe, infelizmente, no Brasil. O
texto deixa clara a questão do desrespeito aos direitos constitucionais
brasileiros.
Tão
importante quanto, é o fato dos alunos perceberem relações de continuidade
entre o passado e o presente. Assim como de diferenças. Hoje em dia a
escravidão acontece do mesmo modo que antes? O que mudou? Essas foram perguntas
que nortearam o exercício.
Desse modo, foi possível que os alunos
estabelecessem links entre as
temporalidades, percebendo assim que do mesmo modo que o trabalhador das
fazendas de hoje está preso ao trabalho por uma série de questões, o escravo no
período imperial também estava. E, mais importante, que ambos precisam de uma
série de fatores para que possam sair dessas condições. Dentre eles pode-se
destacar o fato de que, no passado, os negros precisavam da influência e da
luta dos abolicionistas. Atualmente, os trabalhadores rurais necessitam cada
vez mais das fiscalizações por parte do governo.
A
turma, em um primeiro momento, mostrou-se surpresa com as informações contidas
no artigo, mas foi capaz de diferenciar as principais particularidades do
trabalho escravo do século XIX e o trabalho compulsório dos dias de hoje.
De
forma geral, todos receberam a atividade de forma positiva. A reflexão,
intermediada pelas comparações entre as distintas temporalidades, facilitou a
compreensão do conteúdo. Também possibilitou aos alunos chegarem à conclusão de
que por mais que a escravidão tenha sido abolida a mais de 100 anos, ainda
existem resquícios flagrantes dessa forma de exploração no Brasil.
E
isso é particularmente interessante, visto que o próprio conceito de “abolição”
foi posto em cheque, pois, em pleno século XXI existem uma série de fatores que
levam o homem a explorar de forma desumana o seu semelhante. Por isso, não foi
surpresa quando um dos alunos levantou (com suas respectivas ressalvas, é
claro) a questão de que os fazendeiros do Brasil imperial não se diferem tanto
assim dos grandes latifundiários abordados no artigo.
Assim,
considera-se que o principal resultado foi obtido: despertar um posicionamento
crítico dos alunos sobre acontecimentos passados, mas que ainda se mostram
marcantes no presente.
Bolsista: Rayner Lacerda
[1]
Retirado de http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/trabalho-indecente.
Acesso em 05 de Outubro de 2012.
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