quarta-feira, 7 de novembro de 2012

TRABALHO COM MÚSICA E FILME: ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM ALUNOS DO 7º ANO DA ESCOLA MUNICIPAL "MINISTRO EDMUNDO LINS"


Ao longo do mês de Outubro os alunos dos sétimos anos da professora Sueli estudaram principalmente dois assuntos: 1) África (capítulo 8 do livro didático) e 2) Povos pré-colombianos (capítulo 9 do livro didático).
Sobre o item 1 o capítulo traz questões como a religiosidade dos africanos, os diferentes reinos da África, o comércio, a escravidão africana e as perdas demográficas causadas pela mesma, o tráfico negreiro, dentre diversos outros pontos. Estes ressaltados foram os privilegiados ao longo da atividade que será descrita adiante. Relacionado ao segundo tópico, o livro traz a diversidade dos povos americanos (incas, astecas, maias, indígenas do Brasil e os sioux na América do Norte). A atividade que será exposta adiante foi aplicada enfatizando mais questões como: a riqueza da fauna e flora, a vida cotidiana dos nativos antes da chegada dos europeus, a ameaça da vida dos mesmos com a colonização, a misgenação possibilitada pela “exploração” da América por parte dos europeus e outras temáticas possíveis abordadas ao longo do capítulo 9 do livro estudado.
Neste sentido foi desenvolvido um trabalho de forma menos tradicional. Para abordar o primeiro assunto foi trabalhado o conteúdo de três músicas selecionadas do grupo Raíces da América. Grupo brasileiro que cantam questões relacionadas à América com letras riquíssimas em conteúdo histórico e uma mistura de ritmos latinos que é percebido pelos instrumentos utilizados. Cantam questões sociais, relacionadas ao abandono do menor, ao racismo, dentre outras. Surgiu no momento da ditadura militar brasileira, época em que a classe estudantil era caracterizada por ser mais engajada, logo teve boa receptividade entre os estudantes. As músicas escolhidas são: Terra Prometida, Mira Ira e Fruto do Suor. [1] As letras seguem abaixo:
Fruto do Suor – 
4´30"(Tony Osanah / Enrique Bergen)
A terra nova era um paraíso
O milho alto e os rios puros
Dormia o ouro a cobiça ausente
Era o índio senhor do continente
Foram chegando os conquistadores
Os africanos e os aventureiros
O índio altivo se mesclou aos escravos:
Nascia um novo tipo americano.
O interesse fabricou carimbos
O ódio à toa levantou paredes,
A baioneta desenhou fronteiras
E a estupidez nos separou em bandeiras
Tenho um filho desta terra
Foi um amor sem passaporte
Se o gestar foi brasileiro
Não me chames de estrangeiro
Cada pedra, cada rua
Tem um toque de imigrantes
Levantaram com seus sonhos
Um país que não tem donos.
O suor fecunda o solo
E a semente não pergunta
Brasileiro ou imigrante?
Só o fruto é importante.
Não me sintas forasteiro.
Não me invente geografias
Sou tua raça, sou teu povo,
Sou teu irmão no dia-a-dia.

Mira Ira – 4’45”
(Lula Barbosa e Vanderlei de Castro)

Mira num olhar
Um riacho, cacho de nuvem
No azul do céu a rolar...
Mira Ira, raça tupi,
Matas, florestas, Brasil.
Mira vento, sopra continente,
Nossa América servil,
Mira vento, sopra continente,
Nossa América servil...
Mira num olhar,
Um riacho, cacho de nuvem
No azul do céu a rolar...
Mira ouro, azul ao mar,
Fonte, forte de esperança,
Mira sol, canção, tempestade, ilusão,
Mira sol, canção, tempestade,
Ilusão...
Mira num olhar
Verso frágil tecido em fuzil,
Mescla morena,
Canela, cachaça, bela raça, Brasil.
Anana ira,
Mira ira anana tupi
Anana ira, anana ira
Mira Ira
Terra Prometida– 3´33"
(Mariano)
Viajam os imigrantes
A terra prometida
Verdes cachoeiras
Frutos tropicais
Mar o sal da terra sol amor e paz
Defrontam-se com a miséria
Sem teto e sem guarida
Sorrindo eternamente na terra prometida
Do oriente ao ocidente navegam os imigrantes
Trazendo em sua carcaça o tom da guerra e sangue
Cálice
Repartir o pão
É a lei divina
Semear o amor
Vida cristalina
Pro norte sul leste oeste
Sim a terra prometida
Semear e cultivar o chão
Frutos do suor...
Os povos que emigram
A terra prometida
Sem raça e sem cor
Criança beija-flor
Brasil promessa de vida
Brasil promessa de vida
Aqui jaz terra prometida

Após ler, cantar e ouvir as músicas os alunos interpretaram o conteúdo intermediados pela fala do professor e do bolsista quando necessário. Pretendemos uma aula conversada e a matéria será apresentada aos alunos então de forma dialogada partindo de suas interpretações em relação ao que acabaram de ler e ouvir. É um exercício interessante visto que os instiga a pensar, refletir, a ouvir a música para aprender, a cantar, enfim, trabalha com variadas habilidades. Ao final da explicação do conteúdo foram passadas atividades para avaliar o rendimento e o resultado desta aula consistindo em três etapas:

A - Ilustrar as músicas;
B - Selecionar palavras desconhecidas e buscar pelo seu significado no dicionário
C - Identificar quaisquer elementos da música que eles julguem compatível com as disciplinas História e Geografia estudada na escola.
(Para esta atividade utilizamos o rádio para tocar as músicas aos alunos.)

Os objetivos desta atividade foram diversos, dentre eles:
  • Analisar a música como conteúdo histórico;
  • Compreender a matéria através deste recurso;
  • Analisar as músicas de forma crítica, lembrando que a própria música em si já traz sua crítica;
  • Promover interação na sala ao estimula-los a cantar;
  • Desenvolver habilidades como o desenho;
Abordando, então, uma diversa gama de conteúdos presente no livro didático, como: América Latina, Povos nativos, chegada dos Europeus, o continente americano antes dos Europeus e a visão de “Paraíso”, miscigenação e mineração no Brasil.
Quanto ao tema “África” propomos a apresentação do filme de produção nacional de 1985 dirigido por Walter Lima Junior, com duração de 115 minutos e gênero “drama histórico” Chico Rei. Personagem lendário, Galanga seria rei do Congo e trazido a Ouro Preto, antiga Vila Rica como escravo. Como rei, prometeu liberdade a seu povo e a conquistou, segundo a lenda. É importante assinalar que é um filme adequado a faixa etária dos alunos, visto que é uma das indicações presente no próprio livro, porém para abordar outro conteúdo (A mineração).

“Em meados do século XVIII era intenso o tráfico de negros da África para o Brasil Colonial. Arrancados de suas tribos, eram amontoados em navios negreiros e mantidos aqui     como mão de obra escrava.Entre eles estava Chico Rei. A lenda conta que este negro passou por inúmeros sofrimentos e que, aqui chegando, teve sempre em mente libertar seu povo das correntes da escravidão.Em Vila Rica (atual Ouro Preto) onde trabalhava, Chico Rei descobriu uma grande reserva de ouro que o permitiu comprar a carta de alforria e, tempos depois, a própria mina do Senhor endividado tornando-se o primeiro negro proprietário. Com o ouro da mina, os negros compraram sua liberdade e construiram no alto da cidade, uma igreja para a Padroeira, Santa Efigênia. Chico Rei foi um dos muitos africanos que chegaram a Ouro Preto na condição de escravo, para trabalhar na mineração do ouro em terras mineiras. Veio ao Brasil como prisioneiro de guerra, juntamente com seus filhos e sua mulher. No trajeto realizado em um navio, presenciou serem lançados acorrentados ao mar sua mulher e seus filhos, por se apresentarem em condições mais frágeis perante os demais prisioneiros, restando ele e seu filho, o príncipe Muzinga. Rei de sua tribo, Chico Rei lutou pela liberdade dos seus súditos na América, alforriando-os. Tornou-se um líder na antiga Vila Rica, e hoje representa um símbolo de liberdade no Brasil.”[2]


A intenção em trabalhar com este filme é diversa. Primeiramente, atentando para uma história local e patrimonialista que raramente vemos em escolas podemos abordar a questão do tradicional Congado de São José do Triunfo – distrito de Viçosa. Assim a História local está intimamente atrelada a uma ideia de patrimônio imaterial que pode ser trabalhada em sala de aula mostrando tanto traços da cultura e religiosidade afro-brasileira como viçosense, visto que esta manifestação ocorre até os dias atuais.
Como esta representação religiosa apresenta elementos africanos e católicos podemos trabalhar a questão do SINCRETISMO ao mesmo tempo em que delineamos ambas as culturas e religiosidades. A valorização de uma história oral, que permite ao aluno identificar traços religiosos, familiares, tradicionais, manifestações do passado que ocorrem ainda hoje, como a Festa do Rosário, quando temos a apresentação do Congado faz com que o mesmo se sinta inserido e valorizado no processo histórico. Ao entender que a História (enquanto memória) pode ser produzida também pelos grupos sociais os próprios alunos se inserem no processo histórico e percebem a importância dessa técnica.
Além do sincretismo, de traços da religiosidade e cultura africana, da questão de História local e patrimônio imaterial o filme nos possibilita transmitir ao aluno que a História do século XVIII tem relação com a sua realidade atual, pois a Festa de Nossa Senhora do Rosário, bem como a apresentação do Congado se dão ainda hoje. Outro ponto que aproxima o passado do presente dos alunos é que Chico Rei já foi cantado no samba enredo da escola de samba carioca, Salgueiro, em 1964.
Enfim, tendo em vista as questões anteriores, julgamos pertinente o trabalho com o filme em sala de aula, utilizando como recurso data show e notebook. Além de trabalhar com pesquisa os alunos produziram desenhos também sobre o filme. Abaixo a atividade pedida após a exibição do filme:

1 - Dentre as principais manifestações religiosas presentes na sociedade mineira atual e que ainda sobrevive de maneira resistente em diversas partes do estado, encontra-se o Congado – manifestação religiosa popular de formação afro-brasileira, também conhecida como congada ou congo. Esta manifestação religiosa unifica elementos presentes nas culturas e ritos africanos com manifestações católicas portuguesas, criando um novo modo de interação de um povo com sua religiosidade e fé.
Pesquisa sobre o Congado de São José do Triunfo. Procure saber com seus pais, avós, vizinhos sobre como e quando esta festividade acontece, quais as características mais marcantes, os cantos, as roupas, alegorias, a tradição, enfim, TODO TIPO DE INFORMAÇÃO QUE CONSEGUIREM.

2 - Como vimos no filme e diariamente nos livros, revistas, tv, músicas, etc., os africanos deixaram uma herança para nós, povo brasileiro. Herança que pode ser entendida do modo cultural, religioso, culinário, dentre outros. Então, destaque em sua cidade elementos que você atribui a esta herança africana para os brasileiros.

3 - Vocês perceberam ao longo do filme que há elementos da religiosidade africana se misturando a elementos católicos, este fenômeno de mistura é denominado SINCRETISMO. Faça uma pequena pesquisa e explique o que é sincretismo e responda onde você identificou esta característica no filme.

Abaixo um dos desenhos sobre o filme, representando um navio negreiro e a vinda da África para o Brasil, produzido por um aluno do sétimo ano.


Os resultados alcançados podem ser avaliados como bons, mas que podem ainda melhorar. Os trabalhos que recebi foram caprichados e percebi um bom desenvolvimento, mas alguns alunos não fizeram (principalmente a atividade que envolvia o uso do dicionário), houve algumas cópias dos colegas (o que ocorre às vezes com todas as turmas, acredito) e o problema com a ortografia que ainda não foi totalmente superado. A metodologia de ensino utilizada este mês agrada a maioria, visto que fugiu do caráter tradicionalista das aulas, os alunos participaram, leram, cantaram e desenharam, mas foram um pouco “resistentes” com as atividades escritas que exigia um certo grau de “pesquisa”.

Bolsista: Luana Paiva


REFERÊNCIAS:
Sites:
·         Disponível em: http://www.raicesdeamerica.com/ Acessado em: 27 de Setembro de 2012.
·         Disponível em:  http://www.filmesraros.com/loja/product_info.php?products_id=84 Acesso em: 27 de Setembro de 2012.
Livro didático:
·         BRAICK, Patrícia Ramos e MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2006. 


[1] Disponível em:  http://www.filmesraros.com/loja/product_info.php?products_id=84 Acesso em: 27 de Setembro de 2012.


[2]  Disponível em: http://www.raicesdeamerica.com/ Acessado em: 27 de Setembro de 2012.

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