A professora, Fátima Freitas, trabalhou em sala de aula o conteúdo sobre
o período joanino brasileiro com os estudantes das turmas do 2º ano do Ensino
Médio da Escola Estadual Raul de Leoni. O período joanino tradicionalmente é
retratado nos livros didáticos pelo âmbito político, no qual, busca enfocar em
uma linha de pensamento histórico promovida pela relação dos grandes
personagens e dos grandes homens. Desse modo, com a finalidade de complementar
o assunto, procuramos também apresentar à classe as formas de expressão de uma
época por meio das manifestações culturais.
Durante
a primeira metade do século XVI, por meio do tráfico negreiro, os escravos
chegaram ao Brasil e permaneceram nessa condição em mais de três séculos até a
abolição. Esse cenário é retratado por diversos artistas que vieram ao Brasil a
partir de 1816 através da Missão Francesa como, por exemplo, Jean Baptiste
Debret. Atualmente a população brasileira afrodescendente é maior que a de
qualquer outro país, exceto a África, e percebe-se que ainda há marcas desse
cenário que se expressa em forma de racismo e discriminação.
Com
a vinda da corte para o Brasil, houveram diversas mudanças na principal colônia
de Portugal, entre as medidas tomadas após a recepção da corte no país houveram
também a instalação de tribunais de justiça, criação do banco do Brasil e
transformações econômicas, estruturais e culturais.
No
Rio de Janeiro, transformado em sede do governo, a população diversificou-se
com uma concentração de estrangeiros, que realizavam as mais diversas funções,
como comerciantes, fazendeiros, proprietários de terras e escravos e donos de
áreas urbanas. Fundaram-se escolas de medicina, de marinha e da guerra, foi
instalada uma livraria, que daria origem à Biblioteca Nacional e também foi
construído o Jardim Botânico, a Academia de Belas Artes, entre outros.
A
implantação da Academia de Belas Artes no Rio de Janeiro permitiu a contratação
de artistas e professores estrangeiros que chegaram ao país em 1816, com a
chamada Missão Francesa. A Missão Francesa era chefiada por Joaquim Lebreton e
trazia pintores e escultores, entre eles Jean Baptiste Debret.
O
artista instalou-se no Rio de Janeiro em 1817 e permaneceu até 1831. Durante
esse período, procurou demonstrar com detalhes a formação do Brasil e o sentido
cultural de povo e nação: os indígenas e suas relações com o homem branco, as
atividades econômicas e a presença da mão de obra escrava e as instituições
políticas e religiosas.
O objetivo da atividade foi propiciar aos alunos uma outra forma de
se perceber o ensino de história em que muito mais do que político, há também uma
história não das elites que compõe a sociedade colonial da época com os seus
ritos, costumes e crenças. Portanto, a atividade também procurou mostrar aos
estudantes a situação vivida pelos negros retratados por Debret, corroborando o
seu papel na sociedade, sem raras exceções, demonstrando que esta situação estava
atrelada a um formato social de subjugação com os brancos que representavam a
minoria na colônia.
A atividade se baseou na seleção de três obras de Debret, sendo elas, “Negras
livres vivendo de suas atividades- 1829”, “ O jantar no Brasil- 1827” e “Uma
senhora brasileira em seu lar- 1823”. As pinturas artísticas tiveram a intenção
de entender o pensamento de uma época e evidenciar que a cultura europeia não
era hegemônica, e sim, convivia com outras formas de culturas.
Na obra “ Negras livres vivendo de suas atividades- 1829”, é retratada a
população feminina livre que para o seu sustento realizavam algumas atividades
comerciais, vendendo frutas e quitutes. Ainda mais, é interessante pensar que
as negras livres estavam em maior número nas cidades em relação aos homens
libertos. As mesmas se apresentam à sociedade bem vestida simbolizando uma
diferenciação com as escravas.
Em “ O jantar no Brasil- 1827”, Debret apresenta
costumes brasileiros na hora do jantar. Podem-se identificar facilmente quais
personagens são livres e quais são cativos, principalmente pela cor da pele e
também pelo fato de que os negros estão à disposição dos brancos para qualquer
situação, como a negra que abana o casal e aqueles que estão observando a
refeição. Se por um lado havia uma mesa farta para os brancos, por outro os
negros demonstravam uma situação de fome, como pode ser visto através do olhar
fixo do negro em direção à comida em pé perto da mesa.
A
farta mesa apresenta a desigualdade social existente na época, voltada para uma
concepção patriarcal e escravista.
E por último, “Uma senhora brasileira em seu lar- 1823” apresenta
o interior da casa de uma família de prestígio na sociedade brasileira, onde,
em primeiro plano, aparecem os escravos e a mulher branca e sua filha, em
segundo. Nesta obra, Debret evidencia a hierarquização social não só entre
brancos e negros, mas também entre os próprios escravos, por exemplo, a escrava
de quarto da senhora é caracterizada com uma roupa e penteado diferentes e
ocupa um lugar próximo a sua dona. Enquanto isso, os outros aparecem mais afastados,
com vestimentas mais simples e a cabeça raspada.
A
organização social dentro dos lares mostra que os escravos também faziam parte
desse cenário e estavam submetidos às ordens dos senhores e também de escravos
que tinham uma posição um pouco mais elevada.
Após
a exposição das obras de Jean Baptiste Debret foi solicitado uma oficina na
qual os estudantes fizessem o exercício de confronto entre o passado e o
presente a partir da pluralidade cultural já que, no Brasil, após mais de 100
anos de libertação, a população negra ainda se encontra em uma condição de
exclusão em vários âmbitos, como a educação, saúde, política e o econômico.
Por
fim, podemos notar que através de uma atividade complementar ao livro didático
que se desloca mais para o âmbito social é de grande primazia para a forma de
aprendizado com o aluno pois apresenta uma maior possibilidade de contextualização
com o tempo presente do estudante, possibilitando um diálogo agradável entre
professor e aluno.
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Bolsista: Bruna Barbosa da Silva