Abaixo
está um plano de aula demonstrando como um professor pode utilizar a charge em
sala de aula. Instrumento esse tão acessível a todos que pode vir a contribuir
de forma imensurável no ensino e facilitar o aprendizado.
Tema: “O
uso da imagem no Ensino de História: pensando a ‘charge’ enquanto documento histórico”.
Duração:
50 minutos.
Disciplina:
História do Brasil – “O voto de cabresto
na Primeira República”.
Introdução:
Para que o ensino de
História ocorra é necessário que o professor reconheça a “pluralidade” de
perspectivas para se abordar o conhecimento histórico, ou seja, pensando os
diferentes percursos e trajetórias históricas e suas realidades, além da
utilização de novas práticas pedagógicas para enriquecer o ensino.
Deste modo, é
recorrente o uso da imagem, em termos
de recurso didático-pedagógico, meramente como um aspecto “decorativo” ou
“ilustrativo” confirmando algo que foi discutido em sala. O professor ainda
sente dificuldades em como elaborar uma aula através de imagens, até porque
requer um estudo acerca das imagens que serão utilizadas como ferramenta
auxiliar de trabalho para a construção do “conhecimento histórico”. Assim, as
dificuldades normalmente se encontram em como escolher a imagem, como realizar
uma leitura crítica, como elaborar uma ficha sobre a época em que foram
produzidas as imagens e, a questão da quantidade de imagens, sendo que na
maioria das vezes ocorre de o professor “encher” os slides de imagens, mas sem buscar fazer uma análise crítica das
mesmas.
A utilização da imagem
permite trazer para a sala de aula outras formas de linguagem para o ensino de
História, diversificando a prática do ensino e tornando o conhecimento
histórico algo mais palatável para os alunos, podendo também vir acompanhada de
algum texto complementar.
A charge enquanto uma linguagem visual tem como objetivo realizar uma
crítica político-social de um determinado fato ou personagens envolvidos, no
qual o seu autor apresenta um posicionamento “ideológico” fazendo uso de
recursos como o humor e a sátira. Os traços de uma charge geralmente são distorcidos e de caráter “burlesco”, estando
diretamente ligada a uma temporalidade. Contudo, para compreender a charge é necessário estar por dentro dos
acontecimentos, principalmente, no contexto em que foi criada, entretanto, na
maioria das vezes, a charge é “resignificada”
com o intuito de compreender determinado acontecimento atual, tornando-se
possível resgatar conceitos históricos.
.O acesso ao documento
histórico pelos alunos, seja ele um recurso iconográfico como a charge, leva-os a superar a ideia que se
é um documento histórico significa que é “prova do real”, sendo que por detrás
de um documento existe todo um contexto histórico, a intencionalidade do autor
e os valores de uma época.
Assim, o uso da charge nas aulas de História permite que
os alunos estimulem a sua capacidade crítica, consequentemente, aproxima a História
dos alunos, eliminando as barreiras que antes se impunham, além de reduzir a
intervenção do professor dentro da sala de aula, uma vez que a charge é uma linguagem visual que se
encontra presente na mídia, nos jornais e revistas, sendo recursos que estão
presentes na realidade do aluno e que na maioria das vezes já estiveram em
contato. Deste modo, o uso da charge
nas aulas de História é interessante, pois permite transmitir conteúdos do
saber disciplinar, a partir da construção de um saber que não existe em si
mesmo, mas que foi criado e colocado a partir das “problematizações” e diálogos
estabelecidos em sala.
Objetivo Geral:
Estimular a
realização de uma leitura crítica a partir da análise da charge enquanto documento histórico, uma vez que, a charge é uma
linguagem visual que tem como finalidade “satirizar” determinado fato ou
personagens envolvidos – sejam no campo político, social, cultural ou econômico
- sendo de caráter temporal, ou seja, ela se localiza em um determinado
contexto histórico.
Deste modo,
o objetivo de utilização da charge
como recurso didático-pedagógico é apresentar outra perspectiva de construção
do conhecimento histórico, diante de uma linguagem iconográfica que se encontra
mais próxima da realidade dos alunos, procurando incentivar o desenvolvimento
de suas próprias hipóteses diante da análise da charge, com o intuito de formular o seu “saber histórico” em sala
de aula, estimulando o senso crítico a partir do “diálogo histórico” mediado
pelo professor.
Objetivos Específicos:
·
Estimular a construção do
conhecimento histórico a partir da exploração de diferentes linguagens como a
da charge;
·
Incentivar a capacidade de
interpretação de imagens – linguagem não verbal – com o objetivo de desenvolver
nos alunos um senso crítico.
- Contextualizar a época em que a charge foi produzida, com o intuito de orientar os alunos na análise a refletirem que informação ou crítica é retratada pela charge, quais são os conceitos históricos que podem ser identificados e que analogia pode ser estabelecida com o contexto de hoje vivido em sociedade.
Proposta de Atividade: A charge enquanto documento histórico
A charge de Oswaldo Storni “As próximas eleições... de cabresto” foi publicada pela Revista Careta no ano de 1927.
A charge vem acompanhada de um diálogo:
A charge de Oswaldo Storni “As próximas eleições... de cabresto” foi publicada pela Revista Careta no ano de 1927.
As próximas eleições... "de cabresto". |
A charge vem acompanhada de um diálogo:
“Ella – É o Zé Besta?”
“Elle – Não, é o Zé Burro!”
A
partir da charge, observar a imagem,
os personagens e o seu diálogo, interpretando - a por meio de hipóteses, por
exemplo: Quem foi o seu autor? Qual o posicionamento ideológico do autor e o da
Revista? Qual era o contexto do Brasil
na época em que foi produzida? Qual a crítica apresentada pela charge? Observando o local e a data da
criação da charge; quais os conceitos
que estão presentes; em seguida, definir o uso original da charge, as personagens caricaturadas, os elementos representados;
logo adiante, pesquisar o contexto histórico do tema, e, a partir disso,
elaborar uma conclusão pensando se o “voto de cabresto” ainda persiste em nossa
sociedade “dita” democrática.
Do lado esquerdo da cena, aparece
uma mulher com uma expressão em seu rosto marcado pelo desapontamento. Em seu
vestido está escrito a palavra “soberania”, supondo que o termo esteja
relacionado “às eleições diretas” para o povo. Entretanto, a mulher (representada
pela “soberania”) encontra-se fora da urna, isto permite pensar que os
resultados obtidos dentro das urnas não proclamavam a real vontade do povo, mas
sim das oligarquias regionais, representada pela figura do coronel. Já do lado
direito da urna temos a figura do coronel (“político”) segurando o “eleitor”
pela rédea, este representado com uma cabeça de burro e um cabresto demonstrando
que realiza a “vontade de seu senhor”. Nota-se que o eleitor está curvado
demonstrando a sua submissão em relação ao político (o coronel). Esta cena
simbolizaria o sentido do termo “cabresto”, uma vez que, o coronel era quem conduzia
os seus subordinados a seção eleitoral obrigando-os a votar no candidato de seu
interesse. Outro elemento da cena é com relação ao livro ou cardeneta que o
eleitor carrega consigo transmitindo a ideia de que o eleitor seria alfabetizado,
já que a alfabetização era uma das condições exigidas pela Constituição para
que os indivíduos exercessem o seu direito ao voto. Em segundo plano, temos a
paisagem retratada pela cena, no qual os personagens estariam localizados na
zona rural.
Revista:
A Revista Careta foi uma revista humorística
publicada entre os anos de 1908 a 1960 sendo fundada por Jorge Schmidt, foi uma
revista propagadora de uma “contra-imagem” do sistema vigente da época,
realizando críticas por meio do humor.
O Autor:
Oswaldo Storni nasceu em 1909, no Rio de Janeiro foi um dos grandes quadrinistas das revistas d’O Tico-Tico (1905-1962) e O Malho (1902), em seguida, trabalhou para a Companhia Melhoramentos “satirizando” fatos políticos e sociais por meio de desenhos humorísticos, sendo influenciado por uma “cultura de massa” disseminada pelos desenhistas estrangeiros como os norte-americanos.
Oswaldo Storni nasceu em 1909, no Rio de Janeiro foi um dos grandes quadrinistas das revistas d’O Tico-Tico (1905-1962) e O Malho (1902), em seguida, trabalhou para a Companhia Melhoramentos “satirizando” fatos políticos e sociais por meio de desenhos humorísticos, sendo influenciado por uma “cultura de massa” disseminada pelos desenhistas estrangeiros como os norte-americanos.
Recursos Utilizados:
Quadro,
giz, livro didático de História “Ser
Protagonista”; charge “As próximas
eleições... de cabresto”.
Referências Bibliográficas:
BRESSANIN, Alexandra. Gênero charge na sala de aula: o sabor do
texto. Disponível
em: <http://linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/cd/Port/8.pdf>.
Acesso em: 07 abr de 2013.
LITZ, Valesca Giordano. O uso da imagem no ensino de história.
Disponível em:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1402-8.pdf. Acesso
em: 07 de abr de 2013.
LOPES, Aristeu Elisandro Machado. A
República nos traços do humor: a imprensa ilustrada e os primeiros anos da
campanha republicana no Brasil. Virtú
(UFJF), v. 8, p. 01-15, 2009. Disponível em: <
http://www.ufjf.br/virtu/files/2009/11/2-Republica-e-Humor-UFRGS.pdf>.
Acesso em: 07 de abr de 2013.
LOPES, Aristeu Elisandro Machado.
Imagens de humor e de política: relações entre a imprensa ilustrada e a
simbologia republicana. Pelotas, 1880-1889. Biblos
(Rio Grande), v. 23, p. 63-77, 2009. Disponível em:
<www.brapci.ufpr.br/download.php?dd0=10282>. Acesso em: 07 de abr de
2013.
MELO MC, COELHO, BS, SANTOS, C. “Do riso
ao siso”: a leitura e a interpretação de cartazes e cartoons políticos na aula
de História. História, imagem e
narrativas. Nº 10, abr/2010. Disponível em:
<http://www.historiaimagem.com.br/edicao10abril2010/dorisoaosiso.pdf>.
Acesso em: 07 de abr de 2013.
NOGUEIRA, Fausto Henrique Gomes;
CAPELLARI, Marcos Alexandre (coord.). História: ensino médio,volume único (Coleção ser protagonista). 1. ed. São
Paulo: Edições SM, 2010. v. 1. 768p.
SCHMIDT, Maria Auxiliadora. A formação
do professor de História e o cotidiano da sala de aula. In: BITHENCOURT, Circe
Maria F. (org.). O saber histórico em
sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004, p. 54-66.
IMAGEM:
Charge: STORNI, Oswaldo. As próximas eleições...
“de cabresto”. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/chargedomes/as-proximas-eleicoes-de-cabresto>.
Acesso em: 07 de abr de 2013.
Bolsista: Maria Belico
Bolsista: Maria Belico
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