quarta-feira, 14 de agosto de 2013

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO: COMO UTILIZAR “CHARGES” EM SALA DE AULA

Abaixo está um plano de aula demonstrando como um professor pode utilizar a charge em sala de aula. Instrumento esse tão acessível a todos que pode vir a contribuir de forma imensurável no ensino e facilitar o aprendizado.

Tema: “O uso da imagem no Ensino de História: pensando a ‘charge’ enquanto documento histórico”.
Duração: 50 minutos.
Disciplina: História do Brasil – “O voto de cabresto na Primeira República”.
Introdução:
Para que o ensino de História ocorra é necessário que o professor reconheça a “pluralidade” de perspectivas para se abordar o conhecimento histórico, ou seja, pensando os diferentes percursos e trajetórias históricas e suas realidades, além da utilização de novas práticas pedagógicas para enriquecer o ensino.
Deste modo, é recorrente o uso da imagem, em termos de recurso didático-pedagógico, meramente como um aspecto “decorativo” ou “ilustrativo” confirmando algo que foi discutido em sala. O professor ainda sente dificuldades em como elaborar uma aula através de imagens, até porque requer um estudo acerca das imagens que serão utilizadas como ferramenta auxiliar de trabalho para a construção do “conhecimento histórico”. Assim, as dificuldades normalmente se encontram em como escolher a imagem, como realizar uma leitura crítica, como elaborar uma ficha sobre a época em que foram produzidas as imagens e, a questão da quantidade de imagens, sendo que na maioria das vezes ocorre de o professor “encher” os slides de imagens, mas sem buscar fazer uma análise crítica das mesmas.
A utilização da imagem permite trazer para a sala de aula outras formas de linguagem para o ensino de História, diversificando a prática do ensino e tornando o conhecimento histórico algo mais palatável para os alunos, podendo também vir acompanhada de algum texto complementar.
A charge enquanto uma linguagem visual tem como objetivo realizar uma crítica político-social de um determinado fato ou personagens envolvidos, no qual o seu autor apresenta um posicionamento “ideológico” fazendo uso de recursos como o humor e a sátira. Os traços de uma charge geralmente são distorcidos e de caráter “burlesco”, estando diretamente ligada a uma temporalidade. Contudo, para compreender a charge é necessário estar por dentro dos acontecimentos, principalmente, no contexto em que foi criada, entretanto, na maioria das vezes, a charge é “resignificada” com o intuito de compreender determinado acontecimento atual, tornando-se possível resgatar conceitos históricos.
.O acesso ao documento histórico pelos alunos, seja ele um recurso iconográfico como a charge, leva-os a superar a ideia que se é um documento histórico significa que é “prova do real”, sendo que por detrás de um documento existe todo um contexto histórico, a intencionalidade do autor e os valores de uma época.
Assim, o uso da charge nas aulas de História permite que os alunos estimulem a sua capacidade crítica, consequentemente, aproxima a História dos alunos, eliminando as barreiras que antes se impunham, além de reduzir a intervenção do professor dentro da sala de aula, uma vez que a charge é uma linguagem visual que se encontra presente na mídia, nos jornais e revistas, sendo recursos que estão presentes na realidade do aluno e que na maioria das vezes já estiveram em contato. Deste modo, o uso da charge nas aulas de História é interessante, pois permite transmitir conteúdos do saber disciplinar, a partir da construção de um saber que não existe em si mesmo, mas que foi criado e colocado a partir das “problematizações” e diálogos estabelecidos em sala.

Objetivo Geral: 
        Estimular a realização de uma leitura crítica a partir da análise da charge enquanto documento histórico, uma vez que, a charge é uma linguagem visual que tem como finalidade “satirizar” determinado fato ou personagens envolvidos – sejam no campo político, social, cultural ou econômico - sendo de caráter temporal, ou seja, ela se localiza em um determinado contexto histórico.
         Deste modo, o objetivo de utilização da charge como recurso didático-pedagógico é apresentar outra perspectiva de construção do conhecimento histórico, diante de uma linguagem iconográfica que se encontra mais próxima da realidade dos alunos, procurando incentivar o desenvolvimento de suas próprias hipóteses diante da análise da charge, com o intuito de formular o seu “saber histórico” em sala de aula, estimulando o senso crítico a partir do “diálogo histórico” mediado pelo professor.

Objetivos Específicos:
 ·        Estimular a construção do conhecimento histórico a partir da exploração de diferentes linguagens como a da charge;
·        Incentivar a capacidade de interpretação de imagens – linguagem não verbal – com o objetivo de desenvolver nos alunos um senso crítico.
  • Contextualizar a época em que a charge foi produzida, com o intuito de orientar os alunos na análise a refletirem que informação ou crítica é retratada pela charge, quais são os conceitos históricos que podem ser identificados e que analogia pode ser estabelecida com o contexto de hoje vivido em sociedade.

Proposta de Atividade: A charge enquanto documento histórico
A charge de Oswaldo Storni “As próximas eleições... de cabresto” foi publicada pela Revista Careta no ano de 1927.
As próximas eleições... "de cabresto".

A charge vem acompanhada de um diálogo:
“Ella – É o Zé Besta?”
“Elle – Não, é o Zé Burro!”
       A partir da charge, observar a imagem, os personagens e o seu diálogo, interpretando - a por meio de hipóteses, por exemplo: Quem foi o seu autor? Qual o posicionamento ideológico do autor e o da Revista?  Qual era o contexto do Brasil na época em que foi produzida? Qual a crítica apresentada pela charge? Observando o local e a data da criação da charge; quais os conceitos que estão presentes; em seguida, definir o uso original da charge, as personagens caricaturadas, os elementos representados; logo adiante, pesquisar o contexto histórico do tema, e, a partir disso, elaborar uma conclusão pensando se o “voto de cabresto” ainda persiste em nossa sociedade “dita” democrática.
     Do lado esquerdo da cena, aparece uma mulher com uma expressão em seu rosto marcado pelo desapontamento. Em seu vestido está escrito a palavra “soberania”, supondo que o termo esteja relacionado “às eleições diretas” para o povo. Entretanto, a mulher (representada pela “soberania”) encontra-se fora da urna, isto permite pensar que os resultados obtidos dentro das urnas não proclamavam a real vontade do povo, mas sim das oligarquias regionais, representada pela figura do coronel. Já do lado direito da urna temos a figura do coronel (“político”) segurando o “eleitor” pela rédea, este representado com uma cabeça de burro e um cabresto demonstrando que realiza a “vontade de seu senhor”. Nota-se que o eleitor está curvado demonstrando a sua submissão em relação ao político (o coronel). Esta cena simbolizaria o sentido do termo “cabresto”, uma vez que, o coronel era quem conduzia os seus subordinados a seção eleitoral obrigando-os a votar no candidato de seu interesse. Outro elemento da cena é com relação ao livro ou cardeneta que o eleitor carrega consigo transmitindo a ideia de que o eleitor seria alfabetizado, já que a alfabetização era uma das condições exigidas pela Constituição para que os indivíduos exercessem o seu direito ao voto. Em segundo plano, temos a paisagem retratada pela cena, no qual os personagens estariam localizados na zona rural.

Revista: 
        A Revista Careta foi uma revista humorística publicada entre os anos de 1908 a 1960 sendo fundada por Jorge Schmidt, foi uma revista propagadora de uma “contra-imagem” do sistema vigente da época, realizando críticas por meio do humor.

O Autor:
       Oswaldo Storni nasceu em 1909, no Rio de Janeiro foi um dos grandes quadrinistas das revistas d’O Tico-Tico (1905-1962) e O Malho (1902), em seguida, trabalhou para a Companhia Melhoramentos “satirizando” fatos políticos e sociais por meio de desenhos humorísticos, sendo influenciado por uma “cultura de massa” disseminada pelos desenhistas estrangeiros como os norte-americanos.

Recursos Utilizados:
Quadro, giz, livro didático de História “Ser Protagonista”; charge “As próximas eleições... de cabresto”.

Referências Bibliográficas:
BRESSANIN, Alexandra. Gênero charge na sala de aula: o sabor do texto. Disponível em: <http://linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/cd/Port/8.pdf>. Acesso em: 07 abr de 2013.
 LITZ, Valesca Giordano. O uso da imagem no ensino de história. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1402-8.pdf. Acesso em: 07 de abr de 2013.
 LOPES, Aristeu Elisandro Machado. A República nos traços do humor: a imprensa ilustrada e os primeiros anos da campanha republicana no Brasil. Virtú (UFJF), v. 8, p. 01-15, 2009. Disponível em: < http://www.ufjf.br/virtu/files/2009/11/2-Republica-e-Humor-UFRGS.pdf>. Acesso em: 07 de abr de 2013.
 LOPES, Aristeu Elisandro Machado. Imagens de humor e de política: relações entre a imprensa ilustrada e a simbologia republicana. Pelotas, 1880-1889. Biblos (Rio Grande), v. 23, p. 63-77, 2009. Disponível em: <www.brapci.ufpr.br/download.php?dd0=10282>. Acesso em: 07 de abr de 2013.
 MELO MC, COELHO, BS, SANTOS, C. “Do riso ao siso”: a leitura e a interpretação de cartazes e cartoons políticos na aula de História. História, imagem e narrativas. Nº 10, abr/2010. Disponível em: <http://www.historiaimagem.com.br/edicao10abril2010/dorisoaosiso.pdf>. Acesso em: 07 de abr de 2013.
NOGUEIRA, Fausto Henrique Gomes; CAPELLARI, Marcos Alexandre (coord.). História: ensino médio,volume único (Coleção ser protagonista). 1. ed. São Paulo: Edições SM, 2010. v. 1. 768p.
 SCHMIDT, Maria Auxiliadora. A formação do professor de História e o cotidiano da sala de aula. In: BITHENCOURT, Circe Maria F. (org.). O saber histórico em sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004, p. 54-66.
  
IMAGEM:
 Charge: STORNI, Oswaldo. As próximas eleições... “de cabresto”. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/chargedomes/as-proximas-eleicoes-de-cabresto>. Acesso em: 07 de abr de 2013.

Bolsista: Maria Belico

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